Mundo Rural: uma urgência nacional

São sábias as palavras que profere o então Presidente da AJAP (em março deste ano), Pedro Rei, na entrevista que concede à Jovens Agricultores, grande qualidade e pertinência, contudo destaco duas frases na fase final da entrevista.

Editorial de Firmino Cordeiro | Diretor-Geral da AJAP

Disse o Presidente: “Na AJAP defendemos o mundo rural, defendemos o que é de todos. Somos realistas quanto ao seu papel e à sua utilidade para toda a comunidade”. E ainda: “trazer o mundo rural à discussão e tornar este tema como ponto de agenda do País é inevitável, pois trata-se do bem comum de todos nós”.

Pergunto que políticos falaram deste assunto na campanha para as legislativas? Mesmo muito poucos, pergunto se este tema mereceu destaque nos folhetos das grandes prioridades para o País, de qualquer força política candidata? Obviamente que não. Estamos nos territórios rurais, algumas zonas estão quase desertas de atividade economia e de pessoas, logo, poucos votos e poucos deputados.

Estes territórios ocupam mais de 80% da área do nosso território, e quase ninguém se preocupa verdadeiramente com isto?

As organizações do setor, em uníssono com os autarcas desses territórios, e com outras organizações da sociedade civil, têm de ir insistindo com o atual governo para estes temas, e para a necessidade de se tomarem medidas urgentes. Dou apenas este exemplo, todos nos apercebemos da correria para a Serra da Estrela no fim de semana 16 e 17 de março, tinha neve, mas a Serra da Estrela pode ir tendo um fluxo maior de pessoas para a visitar noutras épocas do ano mesmo sem neve, para além do que já foi feito é necessário ainda criar mais atrativos e iniciativas na Serra da Estrela, mas quantas outras regiões o podiam e deviam fazer. Os nossos citadinos querem um território rural em Portugal organizado, aprazível, com ideias, atividades e lazer com qualidade, querem localmente adquirir produtos locais de qualidade, de restauração, hotelaria para todas as posses, natureza, ar puro, desportos ao ar livre, paisagens, biodiversidade.

Os agricultores produzem mais do que alimentos, também são guardiões da natureza, e destes territórios, mas sendo poucos e muito envelhecidos temos de os tratar bem, e tornar este setor mais atrativo. Não só pela inovação, tecnologia, e pela digitalização que alguma da nossa agricultura possui, mas também por estas especificidades regionais dos nossos territórios. Estas zonas mais desfavorecidas, em que se praticam estes modelos de agricultura menos competitiva, não podem, nem devem ficar para trás, têm de ter mais apoios para se ir mantendo, mas também têm de estar associadas a outras atividades complementares, e no seu conjunto tornar-se mais atrativas para os jovens e para alguns investidores.

É este o esforço que se pede ao novo Governo, que tenha uma atenção redobrada com estes territórios, com as suas gentes, e com o seu potencial adormecido, que ainda nenhum outro ousou desafiar, pela criação de medidas apelativas que possam efetivamente ser atrativas e sedutoras.

Nota de redação da Revista Jovens Agricultores: editorial da edição n.º 137 da Revista Jovens Agricultores. Na altura em que este artigo foi escrito, ainda não tinham decorrido as eleições legislativas de 10 de março. Acrescentar também que, à época, ainda era presidente Pedro Rei. Em abril a AJAP foi a eleições, tendo-lhe sucedido no cargo, Henrique Silvestre Ferreira. A reprodução, parcial ou na íntegra, deste artigo requer autorização prévia da AJAP.