Este ano a AJAP – Associação dos Jovens Agricultores de Portugal elaborou 21716 candidaturas no âmbito do Pedido Único (PU), o melhor ano de sempre da Organização. Célia Sousa, Coordenadora Nacional das Áreas Técnicas, explica que este sucesso só é possível pelo “empenho, esforço e dedicação” de todo o staff técnico. Nesta entrevista aborda também os inúmeros serviços que a AJAP presta aos agricultores, entre eles, a assistência técnica, decisiva no desenvolvimento dos projetos.
Como correu para a AJAP a campanha do PU 2024?
O período em que decorre a campanha é sempre muito exigente e desafiante, 2024 não foi exceção. Contudo, consideramos que para a AJAP foi o melhor ano desde que fazemos este tipo de serviço, pois o número de agricultores que efetuou o PU connosco aumentou, o que muito nos honra e incentiva a continuar o nosso trabalho. As 21716 candidaturas devem-se a muito empenho, esforço e dedicação de todo o staff da AJAP, desde o corpo técnico da Sede, administrativos, técnicos de campo e naturalmente as Entidades Protocoladas com a AJAP. Como tal, não podemos deixar de agradecer a todos pelo magnífico trabalho em prol dos agricultores e da agricultura nacional.
Quais são os dados em relação às candidaturas que entende pertinente partilhar com a organização?
Nos últimos anos, a AJAP tem aumentado de uma forma consistente o número de candidaturas. Desde 2009 (9432 PU) a 2024 (21716 PU) o número de agricultores que procurou a AJAP para fazer o PU mais que duplicou, por isso só temos razões para estar orgulhosos do nosso percurso e ser gratos a todos os agricultores e técnicos internos e externos que confiam e acreditam na AJAP como Organização de cúpula.
Por regiões, onde se registaram as maiores prevalências, e quais as percentagens a nível de candidaturas efetuadas?
A região onde a AJAP tem maior representatividade em número de candidaturas é no Norte, seguida do Centro, aliás, é transversal ao número global de PU efetuados no País.
Em comparação com a difícil campanha de 2023, marcada pela execução de uma nova PAC, consubstanciada no PEPAC em Portugal, que diferenças houve?
Todas as campanhas em que se inicia um novo quadro comunitário são mais exigentes, com diversas alterações. A campanha de 2023 foi particularmente complexa, com muitas intervenções novas, divididas pelos diferentes organismos do Ministério da Agricultura. Foi uma campanha repleta de burocracias. A campanha de 2024 foi um pouco o rescaldo da intensidade vivida em 2023, longe de ser tranquila e sem problemas, mas bem melhor que a campanha transata.
O corpo técnico da AJAP e as entidades com as quais a Associação trabalha, de norte a sul do País, são uma parte fundamental. Quais as vantagens para a AJAP de ter esta vasta equipa no terreno?
Sem dúvida que são elementos fulcrais, são as ramificações da Sede que complementam e acrescentam dinamismo territorial e proximidade com os agricultores, uma bandeira da qual a AJAP jamais abdicará. A diferença da AJAP está na relação e nos laços entre a Sede e os colegas do terreno, quer sejam funcionários da AJAP ou de entidades parceiras.
O aconselhamento técnico, nomeadamente o SAAF – Serviço de Aconselhamento Agrícola e Florestal é um outro serviço primordial que a AJAP presta aos agricultores. É um serviço exigente, mas essencial para os produtores? Que aspetos mais importantes destaca nesta matéria?
O SAAF trata-se de um sistema que visa fundamentalmente consciencializar os agricultores e detentores de espaços florestais para a necessidade de uma atividade sustentável, ajudando-os no cumprimento de alguns requisitos e normas. O setor agrícola e florestal deve adotar técnicas de produção que respeitem o ambiente, a saúde pública e o bem-estar animal, para tal é fulcral que se tenha em atenção as boas condições agrícolas e ambientais e segurança no trabalho, fomentando práticas agrícolas benéficas para o clima e a manutenção da superfície agrícola. O SAAF é de adesão voluntária e disponível todo o ano para os agricultores e detentores de espaços florestais. A AJAP, através da vasta equipa técnica, de norte a sul do País, disponibiliza assim este serviço a quem pretenda recorrer, é um serviço de extrema importância pois permite melhorar a exploração nas áreas temáticas abrangidas na exploração, uma vez que pressupõe visitas por parte dos técnicos à exploração, um plano de ação inicial e um relatório final como resultado do follow-up. Este serviço é executado pelos técnicos da AJAP e também das Entidades Recetoras.
A AJAP presta ainda assistência técnica a nível dos ecorregimes, como funciona e se articulam os técnicos do País?
A AJAP presta assistência técnica aos agricultores desde 2000, nessa altura em Proteção Integrada, e posteriormente em Produção Integrada e Agricultura Biológica, e desde 2023, com a mudança do quadro comunitário, apoiamos também nas intervenções relativas ao Maneio da Pastagem Permanente e a Melhorar a eficiência alimentar animal, através dos técnicos implementados no País que têm muito know-how. O nosso País, apesar de pequeno, é muito diferente a nível de culturas bem como de algumas técnicas e necessidades de cada cultivar. A mais-valia da AJAP é a interligação, entreajuda e apoio que temos entre todos (técnicos da Sede, do terreno e entidades parceiras). A assistência técnica efetuada pelos técnicos prevê visitas às explorações; aconselhamento de produtos (fitofarmacêuticos, fertilizantes líquidos e granulados) a aplicar de acordo com as condições edafoclimáticas, estado das culturas; necessidades específicas de cada terreno e planta; procedemos à recolha de terra, de água e folhas para as diferentes análises e o preenchimento do caderno de campo único, bem como todo o apoio a nível de burocracias inerentes à atividade agrícola.
Em relação aos Jovens Agricultores, que serviços presta a AJAP e como está organizada?
A AJAP dispõe de um leque de técnicos que elaboram projetos de Jovem Agricultor, bem como, os restantes tipos de projetos (Investimento na Exploração Agrícola, Investimentos na Transformação e Comercialização de Produtos Agrícolas, Pequenos Investimentos nas Explorações Agrícolas, VITIS, entre outros). A particularidade da organização é que, para além da elaboração dos projetos, os técnicos fazem também o acompanhamento ao longo da vigência dos mesmos, bem como, os pedidos de pagamento. Desde há vários anos que a AJAP defende que haja um apoio complementar, durante e após a instalação do Jovem Agricultor, de forma a minimizar as taxas de insucesso e de desistência da atividade. Acreditamos que o rejuvenescimento
do território nacional passa indiscutivelmente pela instalação de Jovens Agricultores, bem como de Jovens Empresários Rurais, através da implementação do Estatuto do JER criado através do Decreto-Lei n.º 9/2019, de 18 de janeiro, que visa atribuir um caráter distintivo ao empreendedorismo no mundo rural, diversificar a base económica regional, potenciar a criação de emprego e a fixação de Jovens Empreendedores nas Zonas Rurais.
Em resumo, gostava que elencasse os serviços agrícolas que a AJAP presta através do seu corpo técnico. E onde acha que existe maior dificuldade?
Os serviços que a AJAP disponibiliza são:
• Projetos de Instalação de Jovem Agricultor;
• Apoio Técnico Pós-Instalação;
• Projetos de Investimento (Investimento na Exploração Agrícola, Investimentos na Transformação e Comercialização de Produtos Agrícolas, Pequenos Investimentos nas Explorações Agrícolas, VITIS, entre outros);
• Assistência Técnica incluindo Produção Integrada e Agricultura Biológica, Maneio da Pastagem Permanente, Eficiência Alimentar e Globalgap;
• RICA – Rede de Informação de Contabilidade Agrícola;
• Cooperação;
• Formação Profissional;
• Pedido Único;
• Parcelário (georreferenciação de terrenos e fotografias no terreno através da app);
• SNIRA – Sistema Nacional de Identificação e Registo Animal;
• REAP – Regime de Exercício da Atividade Pecuária;
• SAAF – Serviço de Aconselhamento Agrícola e Florestal;
• DCP – Declarações de Colheita e Produção;
• RCV – Registo Central Vitícola;
• Pedidos de licenciamento de recursos hídricos;
• Representação dos Jovens Agricultores Portugueses em Organizações Europeias.
As dificuldades são de vária ordem, e existem handicaps em todos os serviços, contudo as maiores dificuldades e constrangimentos prendem-se com situações que não dependem diretamente de nós, como as tarefas em que é necessário a abertura de concursos, o caso dos projetos, ou casos que carecem de resposta para as quais é necessária a intervenção dos diversos organismos do Ministério.
Como Coordenadora Nacional das Áreas Técnicas, que balanço faz deste percurso e que momentos destaca?
No meu entender é um balanço positivo. Conseguimos manter ao longo destes anos uma estabilidade em crescendo, abraçámos novos desafios, temos conseguido concretizar com bastante sucesso todos os objetivos a que nos propomos. Como tal, olhando para trás posso dizer que estou orgulhosa do percurso e muito se deve também a todos que, de uma forma ou outra, colaboram connosco. A AJAP é isso, é equipa, união, coesão e proximidade. Como referi, cada mudança de quadro comunitário é um momento crucial, de muita mudança e adaptação. A época da Covid-19 foi também muito desafiante por todas as razões sobejamente conhecidas. Termino agradecendo a todos, desde a cúpula, a sede, os técnicos, os administrativos, todos os colaboradores e as entidades recetoras. É um privilégio trabalhar com todos. É um cliché, mas de facto juntos somos mais fortes!
Nota: Entrevista publicada na edição n.º 139 da Revista Jovens Agricultores da AJAP. A sua reprodução, parcial ou na íntegra, está sujeita a autorização da AJAP.