Nuno Miguel Neves, 38 anos, vem de uma família produtora de vinhos. É em Santa Valha, concelho de Valpaços, Trás-os-Montes, que deu seguimento à tradição familiar. Na Quinta do Salvante, a produção vai de vento em popa, sendo que iniciou em 2021 a produção de vinhos de lagar rupestre, uma técnica protegida para a região vitivinícola transmontana desde 2020 e que, segundo o Jovem Agricultor, é uma oportunidade turística única.
Texto: Ana Clara/AJAP
Agricultor desde 2007, Nuno é a oitava geração da família a fazer vinho. Começou nas adegas da família, na materna, especifica, recordando que a sua bisavó foi uma das impulsionadoras da quinta nos anos 50 do século XX, tendo sido igualmente uma das sócias fundadoras da Adega Cooperativa de Valpaços.
“As vinhas são centenárias”, refere, mas atualmente a Quinta do Salvante tem outras parcelas. “Existem videiras de todos os anos, porque todos os anos secam e há reposição de videiras novas no meio das centenárias”, realça Nuno Neves.
Em 2007, com a criação da primeira marca, foi nesse ano que iniciou novas plantações, dando continuidade às castas que estavam mais adaptadas à região, mas separando-as. “Nas vinhas centenárias existe uma mistura de castas pela vinha fora, entre brancas e tintas, nas novas não, já plantámos com a separação e com a introdução de uma casta que não tínhamos, a Touriga Nacional”, afirma.
Com 14 hectares, seis deles de vinha centenária, a Quinta do Salvante produz e comercializa o produto, e conta com distribuição por todo o País. Nuno Neves acrescenta que a aposta é, primeiro, no “reconhecimento nacional”, sendo que só depois tenciona exportar, ainda que já o tenham feito para mercados como a Suíça e França.
Apoios
Sobre os desafios que se colocam aos Jovens Agricultores, o produtor é claro: as alterações climáticas é um dos que está no topo das preocupações. Contudo, vinca, Trás-os-Montes tem temperaturas muito altas no verão e muito baixas no inverno, o que “permite que haja uma gama de produtos muito diferenciados e de excelente qualidade”.
Contudo, a seca tem sido “terrível”, prejudicando a produção. Neste ponto, Nuno deixa críticas, sobretudo no que respeita à falta de apoios à região transmontana. “Sentimo-nos em desvantagem em relação a outras regiões, porque não temos tido apoios absolutamente nenhuns. Noutras regiões do país, por exemplo, é possível ter regadio a baixos custos. Aqui, se quisermos ter rega temos de a suportar nós”, alerta, lembrando que é essencial haver ajudas no que respeita às reservas de água. Tudo, realça, porque Valpaços tem na agricultura o seu motor económico local.
Apesar disso, as perspetivas para 2023 “são boas” sobretudo porque já houve bastante pluviosidade, “e, depois de um ano de seca tão severa, com um inverno bom, as perspetivas são animadoras”.
Vinho de lagar rupestre: uma oportunidade
Nuno Neves destaca ainda uma preciosidade da região e que são os vinhos de lagar rupestre, em que se reproduz o método romano, em lagares escavados na rocha. Nuno foi um dos primeiros a recuperar a técnica em 2021, sendo que no ano passado mais produtores seguiram-lhe o exemplo. Trata-se de uma técnica protegida para a região vitivinícola transmontana desde 2020.
“Na Península Ibérica, Valpaços é a região que mais lagares tem encravados na rocha, estando catalogados cerca de 115”, adianta.
Foi assim que, em 2018, a CVR de Trás-os-Montes, a Associação dos Viticultores Transmontanos (AVITRA), o Município de Valpaços e a Junta de Freguesia de Santa Valha fizeram o vinho Calcatorium em 2018. Nuno participou como produtor, sendo que começa aqui o processo rumo à certificação e que a região considera ser um atrativo turístico muito grande e com potencial.
“A Quinta do Salvante deu continuidade a esta produção e, em 2021, fez o primeiro vinho de lagar rupestre, já foi apresentado, o Torcularium (palavra que designa a adega ou o local onde se fazia o vinho). E em 2022 outros produtores apostaram também nos vinhos de lagar rupestre”, vinca, realçando a importância de impulsionar esta produção que mistura todas as castas.
É desta forma que Nuno Neves conclui, referindo que o vinho de lagar rupestre é, sem dúvida, “uma oportunidade para a região” e “é essencial aproveitar esta preciosidade” para impulsionar as economias local e regional.
Nota: Reportagem publicada originalmente na Revista N.º 133 ‘Jovens Agricultores’ da AJAP.