Jovem Agricultora inova na cerealicultura e na produção de bovinos de carne de raças autóctones

Diana Valente, 27 anos, desenvolve o seu projeto em Montemor-o-Velho, e centra-se na cerealicultura e na produção de bovinos de carne de raças autóctones. A Jovem Agricultora fala sobre a sua experiência no setor agrícola e aborda os desafios da profissão, considerando que “Portugal é um país que ainda tem um caminho importante a percorrer na valorização e no apoio aos Jovens Agricultores”.

Mestre em Medicina Veterinária, Diana Valente é licenciada em Engenharia Agropecuária.

Texto: Ana Clara/AJAP

Mestre em Medicina Veterinária, Diana Valente é licenciada em Engenharia Agropecuária, mestre em Gestão de Empresas Agrícolas e pós-graduada em Promoção do Bem-Estar Animal.

Atualmente a frequentar o Doutoramento em Ciências Veterinárias e o Máster em Agro 4.0., a história de Diana conta-se de forma simples. Nascida no seio de uma família de agricultores da região do Baixo Mondego, desde cedo, revela, teve “uma enorme paixão por esta área”.

“A exploração do meu pai (que já havia sido do meu avô) dedicava-se à produção de arroz carolino do Baixo Mondego e à produção de milho-grão. O meu pai estendeu a exploração, iniciando a criação de bovinos da raça autóctone Brava de Lide. Mais tarde, o meu irmão introduziu uma nova raça autóctone, a raça Cachena”, afirma.

Depois, iniciou o seu projeto próprio, com a introdução de uma outra raça autóctone de bovinos, a raça Jarmelista. “Esta é uma exploração familiar com cerca de 40 ha dedicados à produção de arroz e milho e cerca de 200 ha dedicados à produção de pastagens e forragens”, explica.

A exploração, localizada no concelho de Montemor-o-Velho, distrito de Coimbra, tem o seu acento de lavoura na freguesia de Meãs do Campo, embora disponha de parcelas distribuídas ao longo do Vale do Mondego, entre Coimbra e Figueira da Foz.

Diana Valente refere que a exploração “tem evoluído bastante ao longo do tempo, com a diversificação da atividade produtiva, introdução de novas tecnologias e melhoria técnica e científica”. “Estes são, a meu ver, aspetos fundamentais para a evolução das explorações agrícolas do nosso país e da agricultura num sentido mais lato. O meu projeto é um projeto recente e que tem vindo a evoluir, com aumento do efetivo animal, investimento em equipamento e tecnologia e na minha formação e na dos que diariamente trabalham comigo”, sustenta a Jovem Agricultora.

Falamos de uma exploração que produz arroz Carolino do Baixo Mondego (área geográfica onde é produzido arroz IGP – Indicação Geográfica Protegida) e milho grão branco para panificação em Modo de Produção Integrada. Além disso, adianta, “dedica‑se exclusivamente à criação de bovinos de raças autóctones portuguesas em risco de extinção, sendo que uma das raças produzidas, a raça Jarmelista, apresenta risco máximo”.

A opção pela criação destes animais, prossegue Diana, teve por base “o nosso conhecimento da necessidade de proteger estas raças e preservar os recursos genéticos animais do nosso país”. Além disso, “na exploração valorizam-se todas as práticas que contribuam para a economia circular. Assim, os animais são alimentados não só com pastagens e forragens produzidas exclusivamente na exploração, mas também é utilizado o estrume dos animais estabulados (os que se encontram em regime de engorda) como fertilizante orgânico, tendo sempre por base, na decisão da sua aplicação, as análises de solo realizadas e a implementação de um adequado plano de fertilização”.  

Recorde-se que a Jovem Agricultora foi a vencedora da II edição do concurso TalentA, que premeia jovens mulheres rurais. Sobre essa distinção, Diana Valente diz que tal simbolizou a valorização do seu percurso e do de todas as mulheres que se dedicam a esta atividade.

“Enquanto mulher e jovem, tenho vindo, ao longo dos anos, a deparar-me com inúmeras dificuldades. Estas encontram-se não só associadas à natureza do setor onde trabalhamos, mas também com a descredibilização do trabalho feminino e do conhecimento de alguém cujos anos de experiência ainda são reduzidos. Assim, este reconhecimento e valorização é uma prova de uma mudança fundamental para o nosso setor e sociedade”, considera.

Portugal é um bom país para um Jovem Agricultor se instalar? À pergunta, Diana Valente não tem dúvidas: “Portugal é um país que ainda tem um caminho importante a percorrer na valorização e no apoio aos jovens agricultores. A instalação de um jovem agricultor em Portugal não é nada fácil. Existem muitos desafios associados à enorme burocracia, que muitas vezes é muitíssimo difícil de ultrapassar, ao financiamento e ao acesso à terra. Estas dificuldades e desafios impõem-se não só para quem não tem qualquer tipo de ligação (familiar ou outra) ao setor e que, muitas vezes, tem enormes dificuldades em ultrapassar as questões burocráticas e conseguir acesso à terra, mas também para quem recebe uma exploração dos seus pais ou de outros familiares e, assim, se tenta instalar pela primeira vez como agricultor. Sabemos que a população dedicada à agricultura se encontra cada vez mais envelhecida, mas a transição das explorações, ou a criação de novas, é um processo extremamente complicado, burocrático e desanimador”.  

Diana Valente produz arroz Carolino do Baixo Mondego e milho grão branco para panificação em Modo de Produção Integrada.

Apesar de o seu projeto, enquanto Jovem Agricultora, ainda se encontrar numa fase inicial, Diana confessa que tem intenções de expandir a atividade, aumentando o meu efetivo animal.

“Além disso, gostaria de contribuir ativamente para a melhoria dos padrões produtivos da raça Jarmelista, implementando técnicas de seleção e melhoramento destes animais. Por outro lado, também gostaria de dirigir a minha atividade para circuitos curtos de comercialização, nomeadamente na área do arroz, pelas enormes vantagens de valorização territorial e dos recursos naturais, e de redução do impacto ambiental”, conclui.

Nota: Reportagem publicada originalmente na Revista N.º 133 ‘Jovens Agricultores’ da AJAP.