Entrevista com Guillermo Tellez Vázquez, Diretor-Geral da Caja Rural del Sur

Na última edição impressa da revista ‘Jovens Agricultores’ da AJAP (n.º 141) damos a conhecer melhor a Caja Rural del Sur, o banco cooperativo espanhol, que chegou a Portugal em 2020, e que conta com escritórios em Faro, Lisboa e Porto. A AJAP – Associação dos Jovens Agricultores de Portugal firmou um protocolo de colaboração com a Caja Rural del Sur, em 2022, e desde então têm sido várias as sinergias entre as duas instituições. À margem da apresentação do anuário agroalimentar intitulado ‘Alimental Portugal’, que reúne toda a informação estatística de 2023 do setor, apresentado em dezembro de 2024 pela Caja Rural del Sur, em Lisboa, entrevistámos José Luis García-Palacios, presidente da Caja Rural del Sur, Guillermo Tellez Vázquez, Diretor Geral e Eládio Gonçalves, Diretor de Operações em Portugal. Hoje publicamos a segunda de três entrevistas, nomeadamente, com Guillermo Tellez Vázquez, Diretor Geral da Caja Rural del Sur.

Guillermo Tellez Vázquez, Diretor-Geral da Caja Rural del Sur

“Mais de 75% do nosso negócio em Portugal está centrado na cadeia do agroalimentar” 

Em termos económicos, que importância tem o mercado português para a Caja Rural del Sur?

O mercado português é muito importante para a Caja Rural del Sur, achamos que existe um potencial enorme por explorar em termos económicos, mas não só. Acreditamos que a nossa presença pode impulsionar o estabelecimento de parcerias estratégicas para ajudar a desenvolver o mercado ibérico. Acreditamos que a cooperação e a colaboração são uma boa forma de ajudar a desenvolver economicamente as regiões onde atuamos, mas também esperamos contribuir para o desenvolvimento social e cultural dessas mesmas regiões.

Quais os riscos mais prementes e onde tem sido mais difícil o crescimento da Caja em Portugal?

No meu entender, podemos dividir o risco em três variáveis:

1 – Concorrência: o mercado financeiro português é altamente competitivo, com muitos players bem estabelecidos e com uma clientela fidelizada;

2 Regulação: o aumento significativo e a conformidade rigorosa da regulamentação bancária portuguesa, espanhola e europeia é um desafio para uma entidade em ascensão;

3 – Riscos de Crédito: a gestão e manutenção de níveis baixos de crédito malparado são cruciais para a estabilidade financeira.

Sobre as dificuldades de crescimento apontaria também três variáveis: a expansão territorial (para novas regiões de Portugal pode ser difícil porque é necessário criar infraestruturas robustas para fidelizar uma base forte de clientes); a marca (construir uma marca sólida e de confiança num novo mercado é um processo lento e desafiador); e a integração tecnológica (a implementação e manutenção de um sistema integrado e que responda às necessidades legais e fiscais de dois países é uma constante que não pode ser descuidada para poder continuar a crescer na Ibéria).

Quanto a projetos de financiamento, qual tem sido a procura em Portugal e em que segmentos dentro dos setores agrícola e agroalimentar?

A procura tem sido razoável e de acordo com o nosso plano estratégico. Dentro dos setores agrícola e agroalimentar trabalhamos com todos os segmentos, mas sempre sem descuidar os nossos critérios de atribuição de crédito. Posso dizer que, até à data, mais de 75% do nosso negócio em Portugal está centrado em toda a cadeia do setor agroalimentar.

A nível de oportunidades económicas, nomeadamente no setor agrícola e agroalimentar, que importância e peso tem Portugal nas vossas operações?

A nossa ambição é que Portugal represente 2% do volume de negócios da entidade no final de 2026, sendo que a nossa intenção futura poder crescer de forma significativa, mas a longo prazo e sempre de forma sustentada. Como diz o velho ditado português, não queremos dar um ‘passo maior que a perna’.

Guillermo Tellez Vázquez, Diretor-Geral da Caja Rural del Sur

No que respeita à burocracia do mercado português, que diferenças destaca?

Existem muitas diferenças entre os dois países, algumas coisas são mais ágeis em Portugal do que em Espanha e outras são ao contrário. Quanto à agilidade destacaria o sistema de registo comercial e o registo de hipotecas, o sistema que existe em Portugal é muito mais rápido e eficiente que o modelo espanhol. Sobre a parte burocrática existe ainda demasiado formalismo no trato entre as pessoas, especialmente quando comparando com a Andaluzia. A nível económico e em especial no setor agrícola, Portugal de momento está melhor que toda a nossa zona de atuação em Espanha, e porquê? Porque existe uma gestão mais sustentável de um recurso instável que é essencial para a agricultura, a água. Portugal, e em especial a zona de regadio de Alqueva, consegue fazer uma gestão sustentável deste bem ajudando o desenvolvimento do setor e da região. Em Espanha e em especial na região da Andaluzia dependemos muito da meteorologia.

Como olha para o crescimento no mercado português, tendo em conta a concorrência?

Na Caja Rural del Sur encaramos a concorrência como algo positivo, uma vez que a consideramos como essencial e necessária para potenciar o crescimento dos mercados, não apenas no setor financeiro, mas em todas a áreas de negócio. Também achamos que a concorrência motiva as empresas a descobrirem novas formas de atuar para que se mantenham vivas no mercado. Acreditamos que o nosso modelo e forma de trabalhar fazem a diferença.

Nota: Entrevista publicada na edição n.º 141 da revista ‘Jovens Agricultores’ da AJAP. A sua reprodução, parcial ou na íntegra, requer a autorização prévia da AJAP.