A opinião de Firmino Cordeiro, Diretor Geral da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP).
A força da União de Todos os Agricultores tem de ser Palavra de Ordem! A opinião de Firmino Cordeiro, Diretor Geral da AJAP, sobre a situação atual da Agricultura Portuguesa e a Crise Alimentar.
No contexto do clima de tensão que se tem vivido nos últimos meses no setor agrícola em Portugal, com os agricultores a intensificar protestos, sejam de forma reivindicativa/construtiva ou nas ruas, a AJAP considera que é preciso ir mais longe na ação, sendo que a união de todos deve ser a palavra de ordem, até que as reivindicações dos agricultores sejam verdadeiramente ouvidas e atendidas.
Espanha e os outros países europeus apoiam verdadeiramente os seus agricultores. Aliás, nos últimos tempos, isto foi bem visível, desde a seca, ao período Covid, e agora com os efeitos da guerra e inflação. Tudo isto contribuiu para o crescimento de todos os fatores de produção (sementes, rações, fertilizantes, pesticidas, eletricidade e combustíveis), em que os apoios aos agricultores portugueses ficaram muito aquém, se comparados com os recebidos pelos parceiros europeus, inclusive no timing em que as ajudas chegaram.
Nestes tempos de crise e inflação, o Governo nunca esteve ao lado das empresas em geral, nem dos portugueses, distribuiu migalhas, relembrando o velho ditado “com pão e bolos se enganam os tolos”, mais uma vez muito aquém dos apoios que os parceiros europeus atribuíram às suas empresas e aos seus cidadãos.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, a taxa de inflação dos produtos alimentares não transformados voltou a subir em fevereiro pelo terceiro mês consecutivo, fixando-se em 20,09%. É o valor mais elevado em mais de 30 anos. É um facto que os preços estão a aumentar em toda a cadeia de valor, e na produção também não é exceção, em face dos custos dos fatores de produção, dos escassos apoios aos agricultores e da carga fiscal. Mais recentemente, a inflação galopante tem provocado um aumento generalizado dos preços dos produtos agrícolas ao consumidor, com vários casos de especulação conhecidos nas últimas semanas através da comunicação social, uma verdadeira ‘caça às bruxas’, quando o maior beneficiário é o Estado, pelos impostos, mas fundamentalmente pelo IVA.
Unanimemente considerados desde sempre o parente mais pobre da cadeia de valor desde a produção até ao consumidor final, vêem-se agora os agricultores acusados de contribuir para a especulação de preços. Pasme-se, os consumidores sabem bem a grande diferença entre o preço de venda a que os agricultores vendem os seus produtos, e o preço a que habitualmente os compram. Parece que é chegada a altura de ter coragem, já que é de esclarecimento se trata; de colocar também no rótulo dos produtos, para além do preço de venda, também o preço de compra ao produtor.
O cenário da Agricultura Portuguesa é negro. Desde a Covid já encerraram centenas de explorações (essencialmente devido à ausência de apoios suficientes e aos atrasos na entrega de alguns aos agricultores). Temos a população agrícola mais envelhecida da Europa (66% dos agricultores têm idade superior a 55 anos, destes, 58% já ultrapassam os 65 anos e 17% os 75 anos), e a menor taxa de rejuvenescimento dos agricultores (3,9% para uma média europeia de 10%). Este cenário apenas se verifica na Agricultura em Portugal, porque para o atual Governo este setor pouco ou nada significa.
Com este PEPAC (ainda agora começou e todas as organizações estão já a implorar e necessidade de se proceder a alterações profundas), com a falta de apoios ao setor (da responsabilidade do Governo), os agricultores portugueses estão cada vez mais entregues à sua sorte, ao pouco que não lhes conseguem retirar, e ao seu trabalho, pelos vistos esse ninguém o inveja.
Estamos cada vez mais pobres, numa Europa cada vez mais desigual!