Editorial da revista n.º 143 da AJAP – Associação dos Jovens Agricultores de Portugal.
Autor: Henrique Silvestre Ferreira | Presidente da AJAP
Num tempo em que as alterações climáticas afetam as várias atividades económicas, a Agricultura vive este problema praticamente 365 dias por ano. Este setor tradicionalmente resiliente, tem feito enormes esforços no sentido de se adaptar, e minimizar alguns dos impactos nas culturas, na rentabilidade e nos investimentos a realizar.
Esta é uma realidade que a Ministra do Ambiente e Energia reconhece na entrevista que concede nesta edição da revista ‘Jovens Agricultores’. “Um esforço que passa, desde logo, pela gestão das disponibilidades hídricas, e que consiste num uso racional deste recurso”, afirma Maria da Graça Carvalho.
Para a AJAP, a estabilidade nos apoios, o combate ao envelhecimento, o incentivo à inovação tecnológica e a necessidade de instalar cada vez mais Jovens Agricultores são objetivos constantes da organização, e devem ser uma prioridade do Governo. Como refere a Ministra do Ambiente, os nossos Jovens Agricultores são hoje “mais qualificados e especializados”, e somando a “experiência acumulada” de outros agricultores “representam um importantíssimo ativo” para Portugal”. Sobretudo num momento de bastante preocupação, na sequência do anúncio da Comissão Europeia em relação ao próximo orçamento comunitário [2028-2034], nesta proposta (esperemos que seja revertida), estão previstos cortes de mais de 20%, reduzindo muito as verbas destinadas ao setor agrícola. A agricultura é uma atividade bastante vulnerável e ainda muito exposta a incertezas quase constantes, por um lado as questões climáticas, mas também
a oscilação no preço dos fatores de produção, incluindo a energia, a volatilidade dos preços a que são pagos os bens produzidos pelos agricultores, e agora os dissabores e imprevisibilidade com as ‘Taxas Trump’. Este setor deveria estar noutro patamar na hierarquia do Governo e na preocupação constante dos Partidos Políticos, pois cada vez mais a sociedade civil entende a sua complexidade.
A agricultura, para além de ser uma atividade económica como qualquer outra, associada às florestas, à agroindústria, à proteção das paisagens, e dos recursos naturais, também é prevenção dos incêndios rurais, do ambiente, ordenamento do território e coesão territorial, no entanto, os sucessivos Governos, nas últimas
duas a três décadas, têm menosprezado o setor, e nunca lhe apontaram um rumo verdadeiramente orientador, em face de tudo o que representa.
O tema do Dossier desta edição é o modo de produção biológico, que em Portugal tem crescido de forma significativa. Este subsetor da agricultura, que alia as melhores práticas agrícolas e ambientais, com a preservação da biodiversidade e dos recursos naturais, cumpre um vasto conjunto de normas impostas pela UE, associadas à fertilidade dos solos, tratamentos das pragas e doenças e no combate às infestantes.
É, pois, essencial transformar o Portugal Agrícola e Rural num espaço vivo, inclusivo e dinâmico, onde a juventude encontre condições para investir, aprender, criar família e liderar projetos inovadores que assegurem a sustentabilidade e a coesão do País. Que sejamos capazes!
Nota: Editorial da edição n.º 143 da Revista Jovens Agricultores, da AJAP. A sua reprodução, na íntegra ou parcial, requer a autorização prévia da AJAP.