Em 2023, a Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) celebrou 40 anos. Quatro décadas depois, além de ter reforçado a sua missão de defesa dos Jovens Agricultores (JA), a nível nacional e além-fronteiras, a AJAP presta atualmente um vasto conjunto de serviços ao setor. Na última edição da revista Jovens Agricultores, assinalamos a data, ouvimos alguns ex-Ministros da Agricultura e fomos saber que importância consideram que tem a AJAP no panorama associativo da Agricultura portuguesa. Partilhamos hoje o testemunho de Arlindo Cunha.
Arlindo Cunha | Ex-Ministro da Agricultura
Como tem ficado bem demonstrado em sucessivas crises que vivemos nesta última década – e que, infelizmente, continuamos a viver – a agricultura constitui um pilar fundamental da nossa sociedade, pela sua resiliência económica e social, pela capacidade exclusiva de abastecer regularmente os mercados, alimentar-nos e assegurar, assim, a nossa sobrevivência, soberania e estabilidade enquanto sociedade. E, para além do seu contributo para a economia, afirma-se como um pilar incontornável do ordenamento e equilíbrio socioeconómico e ambiental dos territórios rurais, que representam mais de 80% da superfície do nosso país.
É certo que pairam no ar muitos desafios e incertezas, especialmente os relacionados com as problemáticas ambientais e climáticas, decorrentes do Pacto Ecológico Europeu e dos seus impactos no setor, como sejam as estratégias para a biodiversidade e do prado do prato. Mas também é certo que a Humanidade precisa de alimentos saudáveis e a preços acessíveis. E que isso não pode ser conseguido sem ser através de uma agricultura moderna e competitiva, onde o investimento em inovação e tecnologia (que também inclui métodos eficientes de rega, de luta contra pragas e doenças e fertilização) tenham um lugar central nas políticas públicas de apoio ao setor.
Esta ideia de que a agricultura é uma atividade com futuro em Portugal é fundamental para atrair novas gerações de empresários, com capacidade para a colocar noutro patamar de competitividade. Precisamos para isso que as políticas públicas dirigidas ao setor, assegurem esse conjunto de medidas e instrumentos capazes de lhes garantir sucesso nos tempos vindouros.
Para que essas políticas reconheçam os problemas que temos, na sua diversidade estrutural e territorial, e lhe disponibilizem as adequadas medidas e recursos, precisamos de Organizações Agrícolas fortes, profissionais e independentes. A AJAP tem sido – tenho-o testemunhado-, desde há quatro décadas a organização líder do processo de rejuvenescimento da agricultura portuguesa, insistindo ininterruptamente junto dos sucessivos Governos na necessidade de serem definidas e implementadas políticas mais robustas e mais ajustadas a combater o gravíssimo problema de envelhecimento da população agrícola no nosso país. E se, infelizmente, os JA são hoje menos de 4% dos agricultores em Portugal e o setor é o mais envelhecido da UE, não é por falta da ação e de dinâmica associativa por parte da AJAP, mas, importa dizê-lo, pela insistência das políticas públicas em medidas e fórmulas que se têm revelado ineficazes. Na verdade, quando olhamos para trás e nos damos conta de que temos hoje menos de metade da percentagem de JA que tínhamos há 20 anos, algo tem que estar errado na configuração dessas políticas! Termino a felicitar a AJAP e todos os seus dirigentes atuais e passados pelo combate pela modernidade da agricultura portuguesa que têm incessantemente travado e a fazer votos para que não baixem os braços nessa luta, pois sem ela, pura e simplesmente, não existe futuro.
Nota: testemunho inserido na reportagem sobre os 40 anos da AJAP na edição n.º 136 da Revista Jovens Agricultores, da AJAP. A sua reprodução, parcial ou na íntegra, está sujeita a autorização da AJAP.