As propriedades únicas dos plásticos têm permitido a sua utilização nos mais diversos mercados de aplicação, onde a área da agricultura não é exceção, resultando em claros benefícios para o aumento da produção, melhoria da qualidade e conservação dos alimentos e para uma gestão mais eficiente da gestão dos recursos naturais (p. ex.: minimização das perdas de água).
Nuno Aguiar | Diretor Técnico da APIP – Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos
De acordo com os últimos dados disponíveis na publicação da Plastics Europe ‘Plastics – The fast facts 2023’, o mercado de aplicação de plásticos na agricultura representa, na Europa, cerca de 4%, correspondendo a aproximadamente 2,16 Mt. Os segmentos da Embalagem e da Construção e Edificação continuam a ser os mercados de aplicação mais representativos dos plásticos, com 39% e 23%, respetivamente.
Numa era em que a população mundial continua a crescer a um ritmo exponencial (em 2050, segundo as projeções da ONU, a população mundial rondará os 9,8 mil milhões de pessoas), a procura de soluções que permitam contribuir para os padrões de produção necessários, para fazer face às necessidades alimentares populacionais, será uma exigência natural, onde os plásticos continuarão a fazer parte da equação, assumindo-se como soluções inovadoras e sustentáveis.
Várias são as utilizações dos plásticos na agricultura, como são exemplo as seguintes aplicações:
Estufas
A aplicação do plástico em estufas proporciona a criação das condições ambientais adequadas para a área de cultivo, garantindo a segurança da vida das plantas contra oscilações bruscas de temperatura típicas dos períodos noturnos, maximizando a produtividade.
Os plásticos utilizados nas estufas apresentam uma elevada resistência aos raios UV, conferindo-lhes maior resistência ao envelhecimento provocado pela exposição à luz solar e, por conseguinte, uma utilização de longa duração (3 a 4 anos, em condições normais).
Mulch (cobertura)
Esta aplicação de filme plástico (geralmente preto, transparente ou branco) destina-se à cobertura de solos e proteção do cultivo dos produtos hortícolas e frutícolas, cuja alta resistência mecânica e elevada barreira à luz solar permitem:
- manter a humidade
- melhorar as condições térmicas para as raízes da planta
- evitar o contacto entre a planta e o solo
- evitar o crescimento de ervas daninhas competidoras de água e nutrientes
Silagem
Os filmes plásticos utilizados nesta aplicação permitem armazenar a silagem (alimentação animal), particularmente durante o inverno.
Estes plásticos apresentam uma elevada impermeabilidade e resistência ao rasgo, conferindo-lhes caraterísticas ideais para armazenar a silagem por longos períodos, preservando o valor nutricional da alimentação animal, além de facilitar o transporte dos fardos.
Reservatórios de plástico e sistemas de irrigação
Quando combinados, os reservatórios de plástico e os sistemas de irrigação (p. ex.: tubos e fitas de rega gota-a-gota) de plástico contribuem essencialmente para a gestão da água, evitando perdas incluindo de nutrientes.
Outras aplicações de plástico
Os plásticos podem ainda ser utilizados noutras aplicações como caixas e caixotes para recolha, manuseamento e transporte de colheitas; sistemas de irrigação e acessórios que permitem evitar as perdas de água e nutrientes, fitas que ajudam a segurar as partes aéreas das plantas, entre outras.
A gestão de resíduos de plásticos agrícolas
À semelhança das demais aplicações, também os plásticos da agricultura podem ser reciclados no final de seu ciclo de vida, possibilitando que estes resíduos constituam uma matéria-prima para a indústria recicladora, permitindo deste modo que estes plásticos, após reciclados, se mantenham na economia sob a forma de novos produtos – economia circular. A indústria nacional de reciclagem de plásticos continua empenhada em inovar e encontrar a melhor tecnologia disponível que permita um maior aproveitamento possível dos resíduos plásticos das diversas aplicações, incluindo os da agricultura.
No entanto, e apesar de parte deste tipo de resíduos ser encaminhado para reciclagem, existe ainda um longo caminho a percorrer. Neste campo, vários desafios e oportunidades de melhoria se colocam, dado que continua a ser depositado em aterro muito material plástico, passível de ser reciclado ou valorizado energeticamente, quando a opção reciclagem não é viável.
Logo à partida, é imperioso que se promovam sistemas/esquemas dedicados de recolha e separação dos resíduos da agricultura. Paralelamente, deverão existir mecanismos/processos que permitam remover os inertes (terra/areia) que se encontram regularmente neste tipo de resíduos plásticos e que constituem um dos principais fatores limitativos para a sua efetiva valorização material e económica, já que por serem elementos abrasivos aceleram o desgaste dos equipamentos de reciclagem.
Com métodos de recolha, separação e reciclagem adequados, os plásticos continuarão a desempenhar um papel vital na agricultura e impulsionarão novas inovações no setor agrícola, permitindo ao mesmo tempo contribuir para os desígnios da economia circular e sustentabilidade ambiental.
Paralelamente, a indústria transformadora de plásticos continua empenhada em inovar e encontrar novas soluções de materiais para aplicação na agricultura (como são exemplo os plásticos biodegradáveis), que permitam uma melhor gestão no seu fim de vida.
Por último, referir que a APIP, enquanto Associação representativa do setor dos plásticos, integra, desde 2020, um grupo de trabalho criado pela Agência Portuguesa do Ambiente, onde tem sido promovida uma reflexão conjunta entre os diversos intervenientes no ciclo de vida dos plásticos de uso agrícola – representantes dos agricultores, recicladores e também municípios – no sentido de procurar e avaliar formas alternativas que permitam uma melhor gestão deste tipo de resíduos, potenciando o aumento da sua valorização, em detrimento da sua deposição em aterro, reduzindo ao mesmo tempo os seus custos de gestão, com claros ganhos para toda a cadeia de valor e acima de tudo para o ambiente.
Nota: artigo publicado no suplemento Agricultura Circular n.º 139, incluído na Revista Jovens Agricultores. A sua reprodução, parcial ou na íntegra, está sujeita a autorização da AJAP.