Os sistemas agroalimentares defrontam-se, a nível mundial, com desafios exigentes, que passam por garantir segurança alimentar para uma população crescente, da qual mais de 800 milhões de pessoas estão ameaçadas de insegurança alimentar severa, proporcionar boas condições de vida aos intervenientes da cadeia alimentar e melhorar a sustentabilidade ambiental do setor e do planeta.
Autor: António Fontaínhas Fernandes | Professor Catedrático da UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Em matéria de sustentabilidade, merecem atenção particular as limitações dos recursos naturais, sobretudo dos solos e da água, e as ameaças globais, em especial as alterações climáticas.
A este nível de complexidade deve corresponder uma nova agenda de investigação e ação para o setor agroalimentar que, no domínio dos recursos hídricos, passa por mais conhecimento e adoção de tecnologias inovadoras, visando implementar práticas que fomentem o uso mais eficiente da água e a redução do seu desperdício por todos os utilizadores, públicos e privados, particulares e coletivos. Os decisores políticos, os técnicos e os utilizadores devem ser sensibilizados para a urgência do uso eficiente da água, como bem não apenas indispensável à vida, mas também ao desenvolvimento social.
Nos climas de tipo mediterrânico, em que a estação quente coincide com a estação seca, o regadio é indispensável para se conseguir um aumento da produtividade da terra e do trabalho.
As novas tecnologias aplicadas na monitorização de redes de distribuição de água, da avaliação da humidade do solo e das plantas, e das condições meteorológicas permitem caminhar para uma gestão da rega mais eficiente. É necessária a modernização dos aproveitamentos hidroagrícolas existentes, alguns quase centenários, em que seja possível medir a água utilizada por cada regante e implementar estímulos à poupança de água.
A água para a rega pode ser de origem superficial se armazenada durante a estação húmida em albufeiras de maior ou menor dimensão ou, alternativamente, em charcas ao nível da exploração agrícola.
Pode também ter origem em águas subterrâneas, que constituem o maior manancial de água doce do planeta, com o cuidado de que não haja sobre exploração dos aquíferos, particularmente na zona costeira devido ao risco de salinização.
A reutilização de águas residuais tratadas pode ser usadas com segurança na rega de espaços verdes urbanos e certas culturas agrícolas, com as precauções devidas,
Nos casos de extrema escassez pode ainda considerar-se a dessalinização de água do mar, para abastecimento doméstico.
Em síntese, um futuro mais sustentável requer mais e melhor conhecimento, qualificação dos agentes e inovação, indispensáveis à transformação das práticas de gestão da água e à produção mais eficiente de bens alimentares, contribuindo assim para dietas sustentáveis e saudáveis, bem como para o crescimento e desenvolvimento económico e social dos territórios e do país no seu conjunto.
Nota: Artigo publicado no Suplemento dedicado à Irrigação e Recursos Hídricos na edição n.º 136 da Revista Jovens Agricultores da AJAP. A sua reprodução, parcial ou na íntegra, está sujeita a autorização da AJAP.