Firmino Cordeiro, Diretor-Geral da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), foi orador na manhã de 14 de novembro, no IV Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva, que termina hoje, em Ourique, e que está a debater os desafios que se colocam ao setor na Península Ibérica.
No painel ‘Renovação Geracional’, Firmino Cordeiro iniciou a sua intervenção, manifestando a total solidariedade da AJAP para com Espanha, na sequência das inundações recentes que afetaram a comunidade valenciana. Sobre o setor agrícola, disse que este “está numa crise profunda, e que infelizmente vai continuar, devido às alterações climatéricas e aos preços dos fatores de produção, nomeadamente a energia (gasóleo e eletricidade). E tudo isto numa conjuntura bastante desfavorável”.
O Diretor-Geral da AJAP salientou que este congresso ibérico entre Portugal e Espanha “deve repetir-se mais vezes, porque falamos de questões que afetam os dois países da União Europeia (UE)”, com destaque para o problema da água. “Precisamos de água até para as culturas de sequeiro”, aludiu, e segundo a sua previsão, “o olival e amendoal tradicionais e até a vinha em sequeiro, culturas que ocupam a maior área, juntamente com a pecuária em regime extensivo, podem vir a ter problemas se não existirem soluções mínimas de fornecimento de água para que as culturas referidas consigam manter níveis de produção aceitáveis, e até mesmo para abeberamento dos animais e irrigação de algumas áreas para pastagens”.
“Por exemplo, se compararmos a rentabilidade do olival superintensivo com a do olival tradicional, é incomparável a área territorial que um e outro ocupa no país, pois ela é estrondosamente diferente na produção por hectare (pode chegar a 18 toneladas/hectare num e no outro dificilmente consegue ultrapassar as 3 toneladas/hectare). O mesmo acontece com os custos de produção por hectare, onde a apanha da azeitona, no segundo caso, é muito mais onerosa”, alertou Firmino Cordeiro.
Neste painel, falou-se da renovação geracional, uma luta de anos da AJAP. Basta recordar que “a idade média dos agricultores portugueses é de 64 anos, e somos o segundo país com menor taxa de rejuvenescimento da Europa, a seguir ao Chipre. Isto é muito preocupante”, lamentou o Diretor-Geral da AJAP.
Por tudo isto, acrescentou Firmino Cordeiro, “é fundamental tornar o setor atrativo”, para que “muitas explorações continuem a ser mantidas à tona”. Se “é certo que Portugal tem crescido nas estatísticas, pois é um facto que aumentámos a nossa produção – vinhos, azeite, frutas e hortícolas –, estamos mais exportadores e melhoramos a nossa balança comercial, também é verdade que isto tem sido alcançado, grosso modo, em algumas manchas específicas do país com boa aptidão agrícola. Em contrapartida, nas outras, mais rurais e de montanha, há abandono, desertificação e não há pessoas, e sabemos que esta realidade existe também em muitas regiões de Espanha”.
JER: catalisador dos territórios rurais
O responsável da AJAP lembrou que “a atividade agrícola tem de produzir forçosamente alimentos com mais qualidade, maiores produtividades por hectare, daí o enorme investimento em agricultura de precisão, na tecnologia e na digitalização. E felizmente estamos a fazê-lo, tal como Espanha”.
Contudo, avisa, “não podemos deixar os restantes territórios ainda agrícolas e nomeadamente rurais ao abandono, desertificados e sem pessoas, e à mercê, como temos visto, do impacto das alterações climáticas e dos incêndios que abalam ainda mais estes territórios”. “É, pois, necessário olharmos para os pequenos e médios agricultores e criar dinamismo nestes territórios, que cada vez mais perdem populações no espaço rural”.
Nesta linha, Firmino Cordeiro enfatizou a figura do Jovem Empresário Rural (JER), impulsionada pela AJAP, para que “possamos introduzir nestes territórios outros jovens que, complementarmente à atividade agrícola, se fixem. Se não evoluirmos no turismo rural e noutras atividades económicas, necessárias a estas populações e aos agricultores, estas regiões vão continuar a definhar. Falamos de inúmeros serviços que são fundamentais para revitalizar os territórios rurais”. “A figura do JER traz, por isso, uma multifuncionalidade ao mundo rural, e é essencial que os governos decidam o que querem para o País e para estes territórios”.
Recorde-se que o estatuto do JER, criado pelo Decreto-Lei n.º 9/2019, de 18 de janeiro, e regulamentado pela Portaria n.º 143/2019 de 14 de maio, atribui um caráter distintivo ao empreendedorismo no mundo rural, ao potenciar a criação de emprego e fixação de jovens com o objetivo de: instalar e fixar jovens empreendedores nas zonas rurais; diversificar a base económica regional; e valorizar e qualificar os recursos endógenos e explorar atividades inovadoras e ambientalmente sustentáveis.
Por fim, Firmino Cordeiro deixa o apelo: “o grande desafio prende-se com a renovação geracional, mas também com o dinamismo para que estes territórios não sejam esquecidos. Temos de caminhar mais estruturados e organizados, mas é urgente sensibilizar a sociedade e os governantes para os problemas que afetam o nosso setor e os territórios rurais portugueses”, concluiu.