Fornos de Algodres: potenciar a urtiga e a economia local

O projeto Urticarea surgiu no pós-pandemia, em 2021, a partir de Fornos de Algodres. Dois irmãos, Rafael e Gonçalo Bento, decidiram apostar na urtiga, planta rica em vitaminas A, C e K, polifenóis, cálcio, ferro e magnésio. Dela conseguiram produzir uma cerveja e um gin. Atualmente é possível encontrar produtos da Urticarea em alguns espaços comerciais, na região Centro, desde Aveiro à Covilhã.

Rafael Paraíso Bento, co-fundador da Urticarea, explica como tudo começou, e fruto da pandemia de Covid-19: “eu e o meu irmão pensámos em desenvolver um projeto depois de tanto tempo confinados em casa. Nesse sentido, procurámos desenhar um projeto ‘fora da caixa’ e então pegámos nas urtigas, que é uma planta que já é bastante utilizada em Fornos de Algodres devido à Confraria da Urtiga e aliámos a planta a produtos que apreciamos”. O primeiro produto foi uma cerveja artesanal e, mais recentemente, lançaram o gin.

A empresa, sediada em Fornos de Algodres, dedica-se a produzir vários alimentos com esta planta natural.

“Começámos por fazer uma pequena produção própria de urtiga, estudar os ciclos, os terrenos mais apropriados, a quantidade de água necessária. Posto isto, começamos a colher a planta e a armazenar para depois ser entregue ao cervejeiro, processo igual para o gin”, refere o responsável.

E quais as razões que levaram a esta aposta? Rafael Paraíso Bento recorda que, em 2009, foi criada em Fornos de Algodres a Confraria da Urtiga, “tentando alterar o estereótipo de uma planta que é mal-amada por muitos”, mas que “tem propriedades nutritivas e medicinais que mais nenhuma planta possui”.

“Por exemplo, a urtiga tem 2 vezes mais ferro que o espinafre, 6 vezes mais vitamina C que a laranja, 2 vezes mais potássio que o nabo, 2 vezes mais magnésio que a couve, isto para não falar das suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Por estas razões temos a certeza de que a urtiga é uma ótima aposta”, afiança.

Pouca informação junto dos consumidores

O empresário admite que ainda há pouca informação aos consumidores sobre os benefícios da urtiga, principalmente nas faixas etárias mais novas.

“As gerações mais velhas, pelo contrário, conhecem a planta, sabem das suas propriedades e aplicabilidades, usam na sua alimentação ou aplicam na sua agricultura”.

Para Rafael, “esta desinformação em Portugal contrasta com alguns países da Europa, como é o caso de França, que a título de exemplo criou uma associação de amigos da urtiga, em 1996”.

Sobre a cerveja, surgiu a ideia de “lançar um produto que nós gostamos, adicionando um produto inovador como é a urtiga”.

“A produção da cerveja fica a cargo do cervejeiro, nós apenas fornecemos as urtigas desidratadas. Sendo este projeto um hobby, procuramos ao fim de semana, participar em feiras de exposição, onde é possível dar a conhecer os produtos e encontrar possíveis novos clientes”, sustenta.

Atualmente já é possível encontrar os produtos da Urticarea em alguns espaços comerciais, na região Centro, desde Aveiro à Covilhã.

Por fim, Rafael Paraíso Bento faz um balanço positivo de um projeto recente que considera “ter futuro e vamos procurar fazê-lo de forma consistente, sem pressas”.

Garante ainda que futuramente pretendem lançar mais produtos onde a urtiga possa ser o ex-líbris. “Tudo dependerá das oportunidades que podem vir a surgir”, frisa.

As dificuldades do Interior

Questionado sobre a forma como olha para o apoio aos Jovens Agricultores e Jovens Empresários Rurais que se pretendem instalar no Interior, Rafael diz que falamos de territórios “muitas vezes esquecidos e o apoio que há para estes jovens é escasso”.

“Não existem incentivos para a criação de empresas, não existem benefícios fiscais para os jovens que se estão a lançar no mundo agrícola e empresarial. Cada vez mais as pessoas ‘fogem’ para o Litoral e se não apoiarmos estes jovens que querem desenvolver o Interior vamos acabar por ficar com um Interior mais desertificado. É com imenso pesar que partilhamos que temos convites para mudar a nossa sede da empresa, uma vez que as oportunidades e os apoios são mais interessantes. Mas acreditamos que este projeto só faz sentido em Fornos de Algodres”, assegura.

Por fim, o empresário afirma que, no futuro, gostaria de se dedicar a 100% a este projeto e “começar a vender o nosso produto em todo o país. Temos muitos projetos para o futuro, a urtiga tem imensas aplicabilidades, dos têxteis aos cosméticos ou aos fertilizantes, mas vamos com calma, sem darmos um passo maior que a perna”, conclui.

Nota: Artigo publicado na edição n.º 136 da Revista Jovens Agricultores da AJAP. A sua reprodução, parcial ou na íntegra, está sujeita a autorização da AJAP.