Tem 34 anos e chegou à Luz do Campo em abril de 2018. Falamos com André Freitas, também vice-presidente da direção da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), e cuja história no setor damos a conhecer.
É formado em Economia pela Universidade de Coimbra. Começa por explicar que chegou ao setor “um pouco por acaso”. “Apesar de ser neto e bisneto de agricultores, o meu primo foi o único que continua no setor”, explica André Freitas, acrescentando que os seus pais acabaram por não continuar na Agricultura, numa fase em que “as coisas davam bastante trabalho e pouca rentabilidade, optando por terem um emprego fixo e assim uma outra estabilidade”.
É então em abril de 2018 que abraça o desafio da empresa Luz do Campo, a convite dos primos, para ajudar na parte do escritório (papelada). Todavia, André Freitas acaba, com o tempo, por se envolver “numa dinâmica já bastante forte” acabando mais tarde por assumir a parte das vendas e a gestão do pessoal. Passa a sair do “conforto do escritório”, como diz, passando mais para a parte de campo. “Quem está nesta área sabe que os desafios são diários e isso ajuda-nos a crescer todos os dias”, sublinha.
A Luz do Campo está sediada na zona Centro, no concelho de Soure, e já conta com mais de 15 anos de experiência no setor agrícola. Numa extensão de 200 ha na região do Baixo Mondego a empresa produz 10 variedades de legumes e frutas (nabo, couve branca, roxa, coração e lombarda, espinafre baby, alface baby, bróculo, beterraba, couve-galega e abóbora morango e melancia) e conta ainda com produção para indústria (batata). É certificada Global GAP e tem como missão a produção de hortícolas de elevada qualidade cumprindo com todas as normas de segurança alimentar e respeito pelo meio ambiente. Fornecer os legumes mais frescos e saudáveis é a maior prioridade, cumprindo sempre com as exigências dos clientes mantendo a sua fidelização.
Sobre este trabalho, reconhecido no mercado agrícola nacional, André Freitas refere que “o nosso mercado é essencialmente o nacional, no entanto, já temos alguma produção que fazemos especificamente para o mercado internacional, numa altura especifica do ano (janeiro a abril)”.
“Durante o ano vamos recorrendo esporadicamente ao mercado externo tanto para escoamento de alguma produção como para valorização da mesma”, adianta, realçando que a produção é praticamente toda entregue a granel a parceiros que depois fazem o seu manuseamento e entregam na grande distribuição.
O desafio dos Jovens Agricultores
Sobre o panorama da Agricultura em Portugal, os desafios e os constrangimentos, André Freitas, afirma que “o setor agrícola está bastante envelhecido sendo a renovação geracional um ponto extremamente importante e urgente”. “Só assim se consegue garantir as atividades agrícolas ao longo do tempo”, lembra.
O jovem agricultor frisa que “os custos iniciais para começar uma operação agrícola são hoje altíssimos, quer na obtenção ou arrendamento de terras, nos equipamentos e fatores de produção, que criam logo de início uma enorme pressão aliada a um difícil acesso ao crédito”. A tudo isto, enumera ainda as alterações climáticas e a volatilidade dos preços que “são também uma preocupação que desencoraja quem quer iniciar um projeto”.
Sobre os incentivos existentes, André Freitas, diz que “infelizmente são reduzidos, incapazes de incentivar muitas vezes um jovem a abraçar este setor”. “É importante que as entidades competentes olhem para este setor de uma outra forma, capazes de ajudar e encorajar os jovens, nomeadamente com uma maior facilidade de acesso ao crédito, desburocratização e maiores incentivos fiscais e subsídios específicos para jovens”, apela.
Neste sentido, considera que “a AJAP tem cada vez mais um papel fulcral no apoio, capacitação e fortalecimento dos Jovens Agricultores”.
Nota: entrevista publicada na edição n.º 137 da Revista ‘Jovens Agricultores’, da AJAP. A sua reprodução, parcial ou na íntegra, requer autorização prévia da AJAP.