A chamada Agricultura Verde ou Agricultura Sustentável norteia-se por princípios baseados no equilíbrio ambiental, social e económico.
Um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas estabelece como prioridade acabar com a fome até 2030 e promover a agricultura sustentável, que é encarada, também, como crucial para o processo de descarbonização.
A agricultura está dependente de condições e processos naturais (como o clima, o solo e as interações entre seres vivos, por exemplo) não controláveis pelo homem. A agricultura industrializada procura controlar todos estes fatores, num sistema rígido e dependente da energia externa. São cada vez mais evidentes os impactos negativos desta agricultura industrializada e intensiva no ambiente e na sociedade. Desde a destruição dos solos, passando pelo uso intensivo dos recursos naturais até aos elevados níveis de poluição que daqui advêm.
Falamos de Agricultura Verde sempre que esta atividade respeita o meio ambiente, é justa do ponto de vista social e economicamente viável. Pretende responder às necessidades de produção e preservar a qualidade de vida no planeta, respeitando e protegendo os recursos naturais. Este tipo de agricultura não deve ser entendido unicamente como uma forma de produzir alimentos com o mínimo impacte ambiental. Tem também em conta as componentes sociais e económicas. Para que possa ser praticada e mantida a médio e longo prazo, deve ser uma agricultura adaptada às condições locais.
Enquanto o sucesso da agricultura industrializada se mede apenas através de critérios como a produtividade e a rentabilidade, a agricultura sustentável tem padrões mais complexos e incorpora critérios sociais e de sustentabilidade económica com vista às gerações presentes e futuras.
O desenvolvimento da Agricultura Verde está diretamente associado ao desenvolvimento sustentável. O seu impacto faz-se sentir a diversos níveis, nomeadamente:
• Ajuda a proteger e a regenerar os recursos naturais;
• Previne a degradação dos solos;
• Preserva a biodiversidade e os ecossistemas;
• Respeita a qualidade da água e do ar;
• Diminui os riscos associados à produção e assegura a estabilidade dos rendimentos dos agricultores;
• Assegura um acesso equitativo aos recursos produtivos;
• Garante a participação, a subsistência e a autonomia dos grupos sociais envolvidos nos processos produtivos.
De acordo com dados das Nações Unidas, a Agricultura Verde utiliza menos 56% de energia por hectare de cultivo produzida, emite menos 64% de gases com efeito de estufa por hectare cultivado e promove níveis mais elevados de biodiversidade do que a agricultura convencional.
Caraterísticas
São vários os estudos, nacionais e internacionais que caraterizam a Agricultura Verde, que se norteia por princípios e estratégias como:
- Apoio à agricultura familiar e aos pequenos produtores, possibilitando a sua permanência no campo;
- Diversificação agrícola, tendo em vista o cultivo de alimentos variados;
- Redução dos pesticidas e outros químicos;
- Aplicação de processos ecológicos e biológicos;
- Envolvimento de produtores, distribuidores, comerciantes e consumidores;
- Criação e utilização de sistemas de captação de água das chuvas para utilização na rega;
- Promoção da utilização de energias renováveis, como por exemplo, os biocombustíveis (biodiesel, biogás, etanol e outros derivados de resíduos e de biomassa);
- Rotação de culturas, sempre com o objetivo de reduzir a exaustão dos solos;
- Adoção de práticas agrícolas adequadas às áreas e climas onde as culturas possam atingir maior rendimento com o menor desgaste do solo;
- Opção por áreas produtivas mais próximas do mercado consumidor com vista a reduzir custos com transportes;
- Respeito pelas leis do trabalho e dos trabalhadores, pagamento de salários justos e investimento em formação profissional.
O futuro
Os sistemas agrícolas, pecuários e florestais têm pela frente alguns desafios complexos:
- Tentar aumentar o rendimento das culturas (para fazer face ao aumento da população), sem com isso alargar as áreas de produção;
- Reduzir os consumos de água e de energia;
- Promover a biodiversidade, tentando, simultaneamente, reduzir os custos de produção e os impactos ambientais;
- Gerir os impactos das alterações climáticas;
- Adotar a tecnologia e as ferramentas de apoio à decisão, associadas à agricultura de precisão.
Tendências do futuro da Agricultura Verde
Já são muitos os agricultores, incluindo em Portugal, que utilizam satélites para cultivar os campos, obtêm informações sobre o solo através de sensores e gerem as operações com a ajuda de software sofisticado. As tecnologias agrícolas ajudam a tornar as colheitas mais produtivas, ao fornecerem dados meteorológicos e de campo mais precisos e oportunos, reduzindo a necessidade de fertilizantes e pesticidas, aumentando a eficiência e diminuindo o uso de combustíveis fósseis.
Também o futuro da Agricultura Verde pode ser marcado pelo recurso à tecnologia. Desde a inteligência artificial passando pela biotecnologia ou pela blockchain (banco de dados com enormes capacidades de armazenamento), são muitos os caminhos para adotar práticas mais tecnológicas, produtivas e amigas do ambiente.
Nota: artigo publicado no Suplemento N.º 138 – Agricultura Verde, da AJAP. A sua reprodução, parcial ou na íntegra, requer autorização prévia da AJAP.