Samuel Pereira, Administrador do Grupo JOPER, fala-nos da sua história enquanto Jovem Agricultor. Destaca o facto de estar hoje numa empresa que acumula o know-how de décadas através de sucessivas gerações familiares. Fator importante que, aliado à inovação e promoção de uma Agricultura sustentável e adaptada às novas realidades digitais, faz a diferença no mercado. Na qualidade de Diretor da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), Samuel Pereira lamenta que ainda tenhamos um “setor muito envelhecido”, sendo fundamental “apostar mais na formação profissional”. Nesta matéria, não tem dúvidas, “a AJAP sempre teve um papel importantíssimo e dinamizador na integração dos Jovens na Agricultura”. “E esse trabalho tem de continuar”, apela.
Fale-me um pouco de como começou a sua atividade na Agricultura Portuguesa e quais as suas motivações, no fundo, o que o levou a abraçar este setor?
A minha atividade na Agricultura começou deste pequeno, acompanhando e ajudando os meus avós no dia-a-dia da sua exploração de vacas de leite e na restante Agricultura Familiar que sempre fomos fazendo. Mais tarde, na adolescência, aproveitava as férias de verão para trabalhar na Agricultura, nas diversas campanhas que se realizam nessa altura (Pera, Maçã, Vindimas). Entretanto, fui para a universidade e sinceramente não imaginava que ia voltar ao setor depois de concluído o curso, até porque, na altura, a Agricultura não era bem vista.
Falando da Joper Tomix Ribatejo, como é que tudo começou? Quando chegou à empresa e como tem sido este percurso até ao momento?
Cheguei em 2011, três dias depois de ter acabado o curso e ser convidado pelo meu sogro, atual presidente do Grupo JOPER, a agarrar este projeto. Apesar de todos os receios de trabalhar em família, a experiência e conhecimentos que tinha da Agricultura, fez-me agarrar o desafio, e assim iniciar a entrada da quarta geração na empresa.
Felizmente tem corrido bem, trabalhamos com a terceira e quarta gerações, mas chegámos a trabalhar com a segunda geração também, o que não é comum nas empresas, mas importante na passagem de conhecimento. Assim aprendi muito mais, além de que tenho a vantagem de conhecer os vários tipos de Agricultura, nas várias zonas de Portugal e além-fronteiras, o que é enriquecedor e permite uma excelente partilha de conhecimento com agricultores e outros players do setor.
A marca é uma das mais experientes e reconhecidas no País, apresentando-se ao mercado com uma enorme gama de equipamentos agrícolas, mobilização do solo e tratamento de culturas. Gostava que fizesse um resumo histórico da empresa, onde se posiciona hoje no mercado nacional de maquinaria agrícola e que perspetivas futuras têm?
O Grupo JOPER é constituído pela JOPER que tem 81 anos, que em 1997 adquire 75% da TOMIX, empresa líder na pulverização em Portugal, e que para o próximo ano faz 100 anos, e pela RIBATEJO, adquirida em 2013, empresa com 103 anos e especialista no fabrico de charruas. As três empresas formam um grupo com muitos anos de experiência, que investe fortemente em desenvolvimento e inovação, promovendo uma agricultura sustentável e adaptada às novas realidades da agricultura 4.0. Posicionamo-nos como um fabricante de equipamentos agrícolas líder em Portugal e com a mais vasta gama de produtos. Temos tido um crescimento sólido e sustentado, e trabalhamos com afinco todos os dias para assim continuar no futuro.
No que respeita à exportação, em que mercados estão e qual a relevância do mercado externo?
Atualmente exportamos 40% da nossa produção, mas é manifestamente pouco, sendo que temos feito esforços para aumentar este valor, entrando em novos mercados. Estamos presentes em Espanha, França, Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria, Alemanha, Itália, Austrália, Marrocos, Senegal, Argélia, Tunísia, Israel, Angola, Moçambique, Chile, Peru, México e Venezuela.
Jovens Agricultores
Sendo um Jovem Agricultor e sendo atualmente membro da Direção da AJAP, como vê atualmente o setor agrícola em Portugal, nomeadamente, o segmento dos Jovens Agricultores?
Infelizmente, vejo um setor muito envelhecido, onde em muitas explorações ainda são os avós ou pais que lideram, e muitas vezes rejeitando as novas práticas dos jovens. Ainda vejo muito, o meu avô sempre fez assim, o meu pai faz assim, eu vou fazer igual. Felizmente, também conheço excelentes exemplos, que deviam ser mais divulgados para incentivar novos agricultores.
Noto muito receio por parte dos jovens, especialmente para quem vai começar do zero, onde o investimento é enorme, especialmente depois desta crise inflacionista, onde os fatores de produção aumentaram vertiginosamente mas os produtos não valorizaram à mesma proporção.
De que forma será possível inverter o ciclo de envelhecimento do setor e por que razão o rejuvenescimento do mesmo não tem sido mais rápido do que o desejável?
Apesar de a agricultura hoje em dia não ser conectada como era há 20 anos, ainda há uma fobia pelo setor e uma atração por empregos mais ‘limpos’ como a informática. Infelizmente é uma realidade não só de Portugal, mas de outros países, e não só da Agricultura, mas também da metalomecânica – ou da construção por exemplo -, onde os jovens ‘fogem’ desses empregos.
Também é visível um adiar, sendo que os jovens entram cada vez mais tarde no mercado de trabalho. A mão-de-obra que eu falava anteriormente, para as apanhas da fruta, que antigamente era feita na sua maioria por jovens estudantes, atualmente é feita por migrantes, porque os jovens não querem trabalhar ali.
Sinceramente só vejo um rejuvenescimento no setor com políticas que apostem mais na valorização do setor, promovendo o mesmo, apostando na formação profissional, mas também em políticas de imigração, pois com o envelhecimento generalizado da nossa população e a necessidade de alimentos e mão-de-obra ativa, só recebendo famílias e integrando na comunidade é que conseguimos mitigar. Felizmente, já temos alguns bons exemplos, inclusive no Interior, que vão combatendo a desertificação, porém, é preciso reforçar e não aliviar as medidas.
Nesse sentido, o trabalho da AJAP tem sido essencial nesta matéria?
A AJAP sempre teve um papel importantíssimo e dinamizador na integração dos Jovens na Agricultura. Esse trabalho tem de continuar.
Por fim, que mensagem gostaria de deixar ao setor, nomeadamente, aos Jovens, que abraçam a profissão ou tencionam fazê-lo no futuro?
Apesar de a agricultura ser imprevisível devido a estar exposta a muitos fatores, a Agricultura de hoje não é a mesma que se fazia antigamente.
Felizmente existem técnicas mais sustentáveis, quer para as culturas/ambiente, quer economicamente, permitindo a rentabilidade do negócio, fazendo mais com menos. A digitalização da Agricultura e toda a revolução tecnológica que existe no setor, facilita em muito as operações. Recomendo que antes de começar, se informem bem, junto de associações como a AJAP, que podem aconselhar melhor na tomada de decisão. O setor tem uma missão muito importante, acabar com a fome! Estima-se que atualmente existam 880 milhões de pessoas subnutridas em todo o mundo, sendo que a população vai aumentar 2 biliões até 2030. A procura por comida vai crescer exponencialmente. Cabe aos jovens aceitar esta missão, e fazer Agricultura moderna, sustentável, com maior produção e menos desperdício.
Nota: Entrevista publicada na edição n.º 134 da Revista Jovens Agricultores. A sua reprodução, parcial ou na íntegra, requer autorização prévia da AJAP.