Page 22 - Revista AJAP 123
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COMPARATIVO
cidades médias, com destaque para Viseu; novas vias de comunicação), o Interior está hoje mais envelhecido e mais vazio, apenas com um rendimento mais elevado sustentado pelo Estado, sobretudo através da Segurança Social. É assim que o vejo.
de política não é hábito em Portugal, nem dos Governos nem dos portugueses que os elegem. Não querendo que fiquem, a este respeito, quaisquer dúvidas, não posso deixar de prestar a minha homenagem aos agricultores portugueses, sobretudo aos
mais jovens, que conseguiram, nestes últimos anos, resultados surpreendentes, visíveis, por exemplo, nas exportações
de produtos agrícolas, tanto frescos como transformados pela indústria agroalimentar. Acontece, apenas, que esses resultados ficam a dever-se
a esses agricultores, não resultando, em praticamente nada, da ação seja do Governo, seja do Ministério da Agricultura (com JER ou sem JER...)
3 Uma das consequências mais evidentes da
COVID-19 é a oportunidade que traz para o Interior: menor concentração de pessoas, ambientes menos congestionados, uma vida mais saudável, hoje com menos perdas no que se refere a oportunidades de trabalho (seja pelas vias de comunicação melhoradas, seja pelo teletrabalho). Como em quase tudo o resto, não foi a COVID-19 que criou estas oportunidades mas é facto que as acelerou, por vezes muitíssimo: veja-se, a título de exemplo, o que se passou, e continua a passar-se, com o turismo rural ou com a procura de habitações independentes em espaço rural. Não sei se será suficiente para mudar o Interior (receio que não) mas talvez ajude a desacelerar, quem sabe a travar ou mesmo a inverter, o “dualismo em evolução” a que comecei por me referir.
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AJAP
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A primeira pessoa que me
de responder a este questionário, para que fui gentilmente convidado pela AJAP, foi ter-me visto obrigado a saber o que é um JER (Jovem Empresário Rural), figura que desconhecia. Como sempre, a internet ajudou: Decreto-Lei 9/2019, de 18 de Janeiro; Portaria 143/2019 do Ministério da Agricultura, Floresta e Desenvolvimento Rural, de 14 de Maio. Vi umas definições, o anúncio de medidas de apoio (de discriminação positiva e de caráter facilitador) e, na Portaria, um mapa em que se esclarecem as áreas geográficas de aplicação destas medidas de apoio. Verifiquei, com agrado, que apesar de JER (rural), o nosso empresário (individual ou coletivo), pode propor-se atuar em qualquer área de atividade. Pareceu-me tudo bem: uma iniciativa meritória, certamente ditada pelas melhores intenções, marcada também pela necessidade, muito própria dos políticos, de “mostrarem serviço”. Com os anos que levo de vida, educado a não julgar intenções (a não ser da forma benigna como acabo de o fazer), mais do que
nas “iniciativas” (sempre muitas), prefiro focar-me nas “acabativas” (normalmente poucas), leia-se, nos resultados, que desconheço
(e que, se nada mudar entretanto, jamais conheceremos, nem eu, nem a AJAP nem os leitores da Revista que têm a paciência de continuarem a ler-me). Apurar e divulgar resultados de medidas
DANIEL BESSA
Economista
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Uma das vantagens
confrontou, a sério, com
o problema do Interior do País
foi Adérito Sedas Nunes (1928- -1991), um distinto Sociólogo e Professor de Sociologia (ISEG, ISCTE, UNL, ICS). Publicou, em 1964, na Revista “Análise Social”, um texto fundador: “Portugal, Sociedade Dualista em Evolução”. O “dualismo em evolução” a que se referia, com preocupação,
era o que se estabelecia entre uma pequena faixa litoral,
então predominantemente industrial, e um Interior rural,
em esvaziamento. O processo estava, então, no seu início ou, talvez melhor, ganhava então
a aceleração suficiente para ter merecido a atenção e, mais do que isso, o “grito de alerta” de Adérito Sedas Nunes.
Quase 70 anos depois, com muita conversa e muita política, o pro- blema não fez senão agravar-se
(o “dualismo” continua em “evolução”). Pese embora alguns “surtos de modernidade” (ensino superior, tanto Universidades como Institutos Politécnicos;