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OPINIÃO
Miguel Freitas
Professor da Universidade do Algarve
Agricultura familiar em tempo de ruturas
HÁ UM TEMPO NOVO PARA A AGRICULTURA FAMILIAR, COM O RECONHECIMENTO DA SUA IMPORTÂNCIA NA AGENDA 2030 E NA CAMPANHA GLOBAL PELA DÉCADA DA AGRICULTURA FAMILIAR, APROVADA NAS NAÇÕES UNIDAS, SENDO PIONEIRA A POSIÇÃO DE PORTUGAL, AO APROVAR, EM 2018, O ESTATUTO DA AGRICULTURA FAMILIAR.
A agricultura familiar tem necessidades próprias e desempenhos específicos, mantendo a pequena propriedade ativa, com que se vão tecendo magníficas paisagens alimentares e agroflorestais, onde se garantem serviços de ecossistemas geradores de bens públicos, preservando o repositório genético e cultural, origem de tantos produtos de excelência e certificados de qualidade, que se expressam numa extraordinária diversidade gastronómica. O país rural que ainda resiste ao abandono, deve-o à resiliência da agricultura familiar.
Este tempo novo, abalado por mais uma crise económica, obriga a uma rutura na nossa conceção de política agrícola e alimentar. Desde logo, admitindo-se a necessidade de reforçar os programas orientados à agricultura familiar, tanto no apoio
ESTE TEMPO NOVO, ABALADO POR MAIS UMA CRISE ECONÓMICA, OBRIGA A UMA RUTURA NA NOSSA CONCEÇÃO DE POLÍTICA AGRÍCOLA E ALIMENTAR.
aos rendimentos, como no apoio ao investimento. Temos de
passar de uma perspetiva de manutenção de atividade a uma nova visão transformadora dos territórios. Isso requer um novo racional técnico e institucional, em particular, para a agricultura familiar.
É preciso uma política estruturada de promoção de consumo mais sustentável. As comuni- dades devem ter laços com as produções locais, agilizando circuitos de proximidade. As compras públicas e os mercados institucionais de alimentos são essenciais para amarrar esses laços. Este é o sentido para uma maior coesão social e territorial. A agricultura fami- liar está no centro dessa mudança.